O SINCRETISMO

Roberto Ribeiro De Luca

 
Na Bahia de remotos tempos havia um tupinambá vibrante, feiticeiro,
que à Luz se furtava e na mata se sumia. Contudo, em seu penacho fulgia
aura clara, cintilante, facho miúdo que lentamente acalorava, derretia,
a neve malquerente dos corações abastados, servidores reles do dinheiro.

Um dia, a caçar, viu-se aprisionado pela poderosa Companhia de Jesus,
que o libertou do pecado num riacho à beira-mar, com o nome de Francisco.
Nesse ato, o prior empossado caiu ao chão, capacho, terminal, feito cisco.
Mil vezes rezaram os jesuítas a oração principal, ajoelhados ao pé da cruz,

mas a tibieza vencia célere a fé inabalável, com larga e sábia vantagem.
A conversão recusada era a razão de aquele ser enfermo a reio definhar.
O índio pagão, fiel a seu Pai, Tupã reverenciava: “Eis aqui Nosso Senhor!”

Senão quando,voltou-se ele para os freis, de penas cheio, começou a cantar,
e, com chocalhos no ar, gestos hieráticos e o surdo baticum de um tambor,
expulsou a morte, lançando um grito de amor assustador e forte, selvagem!

(Todos desabaram a chorar…)