A MORTE E A VIDA

Roberto Ribeiro De Luca

Nesta manhã quente, ociosa, de dezembro, na fazenda colonial,
deito-me na rede azul curvada no alpendre da casa grande.
Flores impressionistas em redor bordam uma toalha matinal
e exalam na relva branda, cinza, o sonho que aí se expande.

Tomado por intenso encanto, sinto no rosto o beijo puro, santo,
da brisa morna, e, absorto, vejo-me escapar do corpo doente.
Na capela, rosas e um lençol branco: cenário para o duro canto
das ladainhas e o ciciar das preces do vigário presente.

Atiro-me do céu em piruetas estrambóticas com tolerância.
Além, sobre os montes verdejantes, o gado bucólico a seguir
sereno, alheio a tudo, a pastar quase feliz, em transumância.

Faço troça, voando em cambalhotas para os cisnes espantar.
Pássaros trigueiros transpassam-me o seio, matando-me de rir!
Fremindo, subo rápido, eólico, para o eterno despertar!