GLAURA TRANSFORMADA

Roberto Ribeiro De Luca

Ah, se eu fosse um bergantim mastreado a flutuar
sem lastro nos rios afora, bordejasse ao acaso,
com velas altas e pandas, conforme humores do ar,
atracaria agora, atroaria-te o descaso!

Ah, se tu fosses a ninfa dos belos Setecentos,
a foz puríssima e arcádica da água doce, mansa,
sobre ti arrojaria anestésicos unguentos,
rasgaria-te com a fúria de uma lança!

Mas eu sou - sempre fui - um bergantim perdido. Nise,
bem sabes, ignoras. A pérfida Lise, que engana,
em ti não cabe. Mostra-te a aura! Quem és tu, Denise?

Desvela o rosto fugidio! Corre até a penha
escarpada! Enfim, coras... Dá-me a alma cigana!
Brande então a lâmina, o golpe já se desenha...