MISTÉRIO

Roberto Ribeiro De Luca

Olha para mim! Espalma tua mão!
Forrageia enfim meus olhos encovados,
tira deles o que neles não for são!
Parte os elos da cadeia forjados

por ódios, pesadelos e vis quebrantos!
Mina a força espúria que desvia
minhas águas claras, os caminhos santos!
Deixa-a estancada, sem reles guia!

Seca, veloz, o lago sujo, brumoso,
com sete sopros de teus lábios duros!
Na lama, jardina um cravo formoso,
desata meus nós, os argumentos puros!

Derruba no monte a sebe venenosa!
Verga a chalaça que fere à alegria
verdadeira, minha língua verborosa
à fonte esconsa de graça luzidia!

Faze do lacaio, esplendente diamante
de teu escrínio, o escudeiro por quem
nutres raro fascínio - de semblante
pungente e idílico -, igual a ninguém!

Assim, sonhos esvaecidos de cristal
serão por mim suavemente refeitos;
e filme antigo, que versa sobre o mal,
mostrar-te-á o bem: edênicos efeitos!

Cena sagaz filtrará secreta imagem,
sombras golfarão... à luz do projetor.
Verás então que sou eu teu personagem,
levando tua cruz, sangrando tua dor!