O APOSSAMENTO DA LOUCURA
Roberto Ribeiro De Luca
O tapa violento da angústia bate em cheio no rosto coberto
de solidão. No espelho, a mulher feia se debuxa amiúde,
à procura de uma insólita esfinge perdida no deserto.
Mágoas ferais com a cidade inóspita, com o marido rude,
somam-se à indiferença dos seis filhos, aos dias compridos,
resultando em olheiras tétricas, fundas, que a maquiagem
da ilusão não consegue ocultar. Belos sonhos não vividos,
abortados pela realidade crua, aumentam a voltagem
da caixa de força craniana, e tique-taques, quais de bomba-
-relógio, reboam no corpo trêmulo, arfante, que se estorce
e cai nu ao leito da rua, movido por delírios urgentes.
A voz rouca, sentida, estruge a boca espumante, torce
a corda já roída, tesada pelos suaves prazeres ausentes,
e a sanidade - lesada além do limite - se rompe, ribomba...
para sempre...