IMPRESSÕES

Roberto Ribeiro De Luca

I

O que sinto
por ti
não tem tradução,
transborda
de mim, chama
a atenção de todos.
Se te reconhecem
em meus olhos,
confundindo-me contigo,
irrompe o
constrangimento,
enrubesço,
não em razão
desse equívoco,
mas de trazer-te
nua comigo,
à vista alheia.

II

Ao andar só pela praia,
embriagado de ti,
sob o sol,
abraço todas as nuvens,
a memória,
vai-se o medo de altura.
Os meus olhos radiosos
iluminam o arrebol.
Chego ao píncaro da glória
com lampejos de ternura!

 

III

Sou um mar em turbulência,
pélago de sofrimentos,
se não sinto os beijos teus.
Bonança e concupiscência,
cadinho de sentimentos,
ao passar-te os lábios meus.

IV

Que saudades de ti! Fomos tão unidos,
derramados juntos num único molde,
instruídos em diversos assuntos místicos.
Multiplicamos virtudes, dizimamos vaidades,
para nossas ebúrneas intenções não havia
obstáculos. A magia era tanta, que o estalo de
meu riso compassado, frouxo, encantava,
provocava arroubos nos tristes, o teu gosto
intenso, ilimitado, pela vida, dissuadia todas as
intenções de morte - chamavam-te de santa,
isso corria unânime -, e a alegria exuberava,
esplendorosa! Hoje habitamos cada um nova
morada, nem sequer nos conhecemos. Paguei alto
resgate pela vida de outrora, da qual fui o
próprio refém. Alheios de mim, distantes, anos
a fio se passaram perdidos, não me podiam
avistar lá no fundo do oceano, amarrado com
algas e lágrimas, coberto de dúvidas e sal.
Somente há pouco venci a loucura dos
redemoinhos e voltei à superfície,
heroicamente. Bem sabes o quanto persevero.
Estou mais reservado e cauteloso, menos
confiante e feliz... Arrojos? Mostramos tantos,
lembras-te? São tíbios sem tua companhia,
sinto-os vazios. Não me tens notícias
detalhadas por estar ausente o tempo
delas. Esperemo-lo sem pressa. Talvez haja
delação, o universo conspire, e a alquimia nos
permita, antes do fim, pelo menos, um breve
encontro. Que saudades de ti!