Poesias
A HISTÓRIA

Roberto Ribeiro De Luca
Lembro-me de quando este alvoroço dantesco era fazendas e mata frondosa.
Nos altos, onde há choças debruçadas, horrorosas, solo primoroso enterrava
troncos espessos de árvores majestosas. O céu azul parecia cor-de-rosa,
e sempre em revoada, sob o sol, um colar de penas suaves o matizava.
Neste riacho sujo, avarento, a água corria trôpega, invisível, entre húmus
e pedras lisas, arredondadas. Sons irascíveis, mas admiráveis, ecoavam
na erva grenha, que alfombrada, coberta de pomos frágeis, trescalava sumos.
O coaxar denso dos sapos e o cri-cri acre dos grilos ora se revezavam,
ora se fundiam, em repente sem fim: a vida úbere se expandia, extravasava!
Desolada, com os ombros pensos, procuro incauta o que antes não faltava,
mas o tempo amnésico pisou o passado…Este…só em mim permaneceu…
Vago por entre carros,não de bois,mas de passeio com motor, usando sapatos
que sulcam o asfalto, e não botas que amassam a terra feraz, os carrapatos,
e desço triste à sepultura fria da memória desta cidade… que me esqueceu!