UM SERTANISTA

Roberto Ribeiro De Luca
Venci tribos inocentes,
espalhei sangue e horror!
Ri de seres pouco albentes,
fiz-me deles o senhor!
Desumano?
Homicida?
Não importa, seja qual for!
Queimei, em tenebrosa pira,
escabrosa chama da ira,
que corta,
tua pele escura em flor!
Exorbitei...
Enxovalhei...
Até quando quis...
Sem piedade ou calma,
enrijado, pertinaz,
comi às fincas tua alma,
aliado a Satanás...
Tornei-me infeliz...
Entraste em mim com furor,
devassando-me inteiro!
Sufocaste-me o pudor:
fogo e palha no celeiro!
Veneno escarraste nos rios,
salvaste com fel as piranhas.
Pleno turbilhão de arrepios...
( suor e lágrimas)
Devoraram-me as entranhas!
Igual ave de rapina
que não solta sua presa,
impuseste no terreiro -
faminta, cruel e tesa -
frias trevas ao guerreiro.
Que amaríssima sina!
Apagaste-me os passos,
fechaste os bons caminhos.
A força em estilhaços
sucumbiu a teus espinhos.
Redemoinhos... miragens...
a loucura trouxe urcos!
Mil fantasmas... carruagens...
um exército de turcos!
Temendo o acerbo hospício,
infausto, langue e ausente,
deitei fora o vil cilício
(amargor, imenso transe!)
com adaga reluzente...
Para onde seguirei?!